Por IVÊNIO HERMES*
Abordagem Geral
Os policiais militares do Rio Grande do
Norte, conhecidos pela resistência e amor à farda, são um exemplo de
como a falta de atitude do Estado força os homens desse órgão, que têm
sido usados de acordo com a vontade do Poder Executivo sem dar
importância às necessidades institucionais e do efetivo.
São salários defasados, falta de
convocação de novos policiais, ausência de investimentos significativos,
mau uso do efetivo em operações que seus líderes não aprovam, contudo,
que são obrigados a realizar devido à sua estrutura militarizada e o
constante desrespeito ao trabalho diuturno prestado pela Polícia
Militar.
Aguerridos com a intenção de servir e
com suas frustrações disfarçadas pela vibração de ver um trabalho bem
feito, um sentimento geralmente partilhado por agentes encarregados de
fazer cumprir que realizam a atividade ostensiva, os policiais militares
se encontram passíveis de vitimização por atitudes do governo estadual.
Policias precisam se alimentar
A estrutura militarizada pressupõe
quartéis onde os policiais ficam baseados, contudo isso gera um custo
alto e muitas vezes não proporcional em gastos com alimentação havendo
necessidade de nutricionistas, cozinheiros, ajudantes, auxiliares de
refeitórios, enfim, uma mão de obra especifica para a produção dos
conhecidos “ranchos”.
Além disso, as unidades de policiamento
deveriam retornar às suas bases para se alimentarem, produzindo falta de
efetividade no policiamento ostensivo, que requer a presença inibidora
do policial e causando deslocamento extra nas viaturas.
Para evitar esse gasto surgiram os vales
alimentação e o policial poderia elencar um local dentro do percurso
abrangido por sua unidade móvel para realizar suas refeições.
Essa estratégia de gestão combate
gastos, promove agilidade no revezamento das equipes, mantém os
policiais próximo aos locais de trabalho e promove um serviço próximo ao
ideal para a sociedade.
Somente possui desvantagens o policial,
que passa todo seu turno de trabalho sem possibilidades de uma higiene
extra, alguns minutos de descanso, pois ficar parado dentro de uma
viatura não é descanso e se engana quem acha que o policial está
confortável com todo equipamento que carrega.
Mas guerreiro é guerreiro e os PMs
apenas encarariam isso como mais um revés da carreira se não fosse a
atitude da Administração Estadual de suspender os vales alimentação sem
dar aviso prévio e/ou sem fornecer qualquer explicação, desgastando mais
ainda o policial e a relação entre comandantes e comandos, pois os
primeiros ficam sem saber explicar o que está acontecendo.
Ocorre que nem só de honra vive um policial, ele precisa se alimentar.
Policiais precisam se manter
Além da fome, o PM agora precisa
trabalhar de graça, afinal, para que pagar um homem forjado para
enfrentar intempéries? Ledo engano. São homens que possuem famílias, que
dependem de seus salários e que se programam para pagar suas contas e
fazerem seus investimentos dentro daquilo que está estipulado em seus
contracheques.
Ao ser chamado para uma atividade extra,
esse trabalhador faz jus as diárias correspondentes ao número de dias
que ficará nesse serviço. E isso não é recompensa e nem dinheiro extra, é
uma mera ajuda de custo para que o policial não tenha gastos extras,
que incidiriam em seu salário, durante a vigência da atividade extra
para a qual foi convocado.
Essas conhecidas “diárias operacionais”
são pagas aos policiais convocados para trabalharem em suas folgas e
custam apenas R$ 50,00 (cinquenta reais) por dia, um valor defasado e
que precisa de reajuste com base no salário atual e definido por hora
trabalhada.
Contudo, nem reajuste e nem pagamento
das diárias, além da convocação compulsória para trabalharem com a
promessa de receberem as diárias posteriormente.
Como se não bastasse, o viés do
desrespeito gera novamente colisão entre comandados e comandantes, pois
os últimos recebem promessas e as repassam, sendo que elas não são
cumpridas pelo Poder Executivo.
O descaso com a Polícia Militar chegou a
tal ponto que eles precisam recorrer ao Ministério Público Estadual e a
até à comissão de Direitos Humanos, buscando inclusive soluções
judiciais para garantirem seus direitos.
Embora o Coronel Francisco Canindé de
Araújo Silva, Comandante Geral da Polícia Militar do Rio Grande do
Norte, evidencie esforços para pagar as diárias e esclareça que não
existe convocação compulsória, todos sabem como uma organização baseada
no militarismo funciona para saberem que o Coronel Araújo fica de mãos
atadas sobre esse assunto.
Ocorre que nem só de vibração vive um policial, ele precisa pagar suas contas.
Policiais precisam se deslocar
Para extinguir a força do policiamento
ostensivo, defasar salários, não pagar vales alimentação, não ressarcir
diárias já são bons meios.
Mas isso não basta para o Poder
Executivo da Administração Ciarlini que adquiriu veículos para a polícia
e realizou grande gasto com publicidade para a “festa” de entrega das
viaturas, entretanto, sem qualquer planejamento, não se planejou para
pagar a manutenção e o custeio operacional.
Consequentemente, as viaturas estão
sendo retiradas de circulação por falta de troca de óleo, desgaste de
pneus e ainda por cima por falta de combustível.
Viaturas rodam com abastecimento
estipulado para dias certos da semana, cotas de quilometragem máxima a
ser realizada por turno de serviço, quantidade pré-estabelecida de
combustível, ou seja, medidas de contenção que não podem ser praticadas
em uma polícia que precisa constantemente estar se deslocando, do
contrário, o próprio sentido de policiamento ostensivo fica limitado.
A população fica mal servida pela
ausência de PMs ou pela demora desses agentes em chegarem a certas
ocorrências, sem saber que a culpa não recai sobre eles e sim sobre quem
os impede de realizar um trabalho eficiente.
Ocorre que nem só de vontade vive um policial, ele precisa de meios de ação.
Considerações sobre o tema
“E quem precisa da polícia que se
lasque. A governadora demonstra claramente querer o caos, para decretar
calamidade e contratar a solução sem licitação.” Jornalista Cézar Alves
O processo de vitimização do Policial
Militar Potiguar pode ser comparado com a de policiais de outras
corporações e de outras Unidades da Federação, todavia, numa gestão
administrativa que priorize a segurança de seus cidadãos, isso não
deveria ocorrer em face de outros gastos do Governo Estadual ou da
desculpa do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Gastos como os 102 mil reais dos cofres
públicos, efetuados pela Administração Ciarlini, para levar a
governadora Rosalba, a poucos dias, de jatinho para um passeio de ida e
volta ao Rio de Janeiro para participar de um evento sem contrapartida
para o Rio Grande do Norte.
E gastos com publicidade e propaganda
enquanto permanece muda, como o fato de não ter declarado nada até agora
sobre questões urgentes para a situação do Rio Grande do Norte, como
por exemplo, a assinatura ou não do Projeto Brasil Mais Seguro.
A citação do jornalista Cezar Alves bem
descreve a situação da polícia potiguar, é a visão de alguém experiente
que antevê o caos sendo estabelecido propositalmente, colocando a
população em perigo e a polícia em xeque ao frear ação do policiamento
ostensivo.
* IVÊNIO HERMES é Consultor de Segurança Pública Pública da OAB/RN; Especialista em
Políticas e Gestão em Segurança Pública; Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública; Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos e
Ensino Policial.
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