Por Jeoás Santos * - As preocupações em qualquer área das relações humanas se
intensificam e ganham maior repercussão quando começam atingir as classes mais
favorecidas. Nos últimos dias, temos visto uma maior preocupação com a
Segurança Pública,
que vem sendo pauta até de colunas sociais (e quando essas notícias chegam às
colunas sociais é porque atingiram quem naturalmente não deveria ser incomodado
com essas frivolidades).
A situação da Segurança Pública está um caos. E
agora não apenas nos discursos reivindicatórios raivosos e radicais dos
sindicalistas, que sempre esbravejaram em defesa de uma política mais coerente
e prioritária, alertando que a situação tem raízes nas estruturas e na política
administrativa que não valoriza o profissional, nem conta com planejamento
adequado e investimentos em inteligência, planejamento e estrutura. Com as
mazelas esparramando pelas bordas e se espalhando para todos os lados, outras
vozes começam a esbravejar, antes pacíficas, compreensíveis e moderadas, passam
a gritar e a gritar alto, raivosas e radicais, pois estão sendo também
atingidas. Comprovando o ditado popular que a dor ensina a gemer.
Sem querer compor uma ode aos caos, ao sangue e a
barbárie. Somos obrigados a constatar que o medo, a carnificina e o
derramamento de sangue tornaram-se corriqueiros, (lembrando FriedrichNietzsche)
banalizaram-se. Aos poucos uma sociedade pacífica e cordial, que em tempo de
paz , de forma racional buscaria a colaboração mútua e o crescimento social
coletivo, passa a ter um comportamento cada vez mais competitivo e agressivo,
que sem compreensão e tolerância (lembrando Jesus, o Cristo) perde as afeições
naturais e congela o amor. Uma sociedade na qual, cada vez mais, é endeusada a
cólera e a vingança.
Assim caminha a passos largos a humanidade. E no
caso especifico do Rio Grande do Norte, onde as rosas tornaram-se espinhos,
vivemos uma crescente e assustadora onda de violência. Segundo os dados do anuário
da violência divulgados recentemente, nosso estado apresentou, em 2012, um
aumento nos homicídios dolosos de 5,2% em relação ao ano anterior. Os crimes de
lesão corporal seguida de morte aumentaram assustadoramente em 53,9%. As
tragédias não param por aí, as mortes a esclarecer tiveram absurdamente um
aumento de 269%. Em 2013, já passamos dos 1300 homicídios. A violência começa a
preocupar justamente porque tem atingido as classes sociais mais favorecidas,
as donas dos meios e dos fins de produção. Além de apresentar repercussões
sociais preocupantes de extermínio da população mais jovem e causado uma
sensação de insegurança, medo e terror vivida diariamente pela população.
Segundo dados do PROERD, “80% dos casos de
homicídio e violência entre os jovens estão relacionados ao uso de drogas”.
Mesmo a Polícia Civil e Militar superando dificuldades estruturais,
desmotivação e tantos outros aspectos filosóficos e políticos cristalinos ou
ocultos, não é suficiente para responder a demanda que se avoluma a cada dia
tornando-se praticamente impossível o controle e o combate. Aqui louvo e
parabenizo de pé todos os profissionais da área pela coragem, dedicação,
desprendimento e sentimento público. Recentemente para colaborar com a
eficiência do serviço policial, profissionais por conta e iniciativa própria,
utilizam recursos para manutenção de viaturas e/ou aquisição de materiais de
trabalho, e até as redes sociais para compartilhar informações sobre crimes e
suspeitos acusados de atos criminosos.
Atrelado a tudo isso, ainda existem inúmeros
assuntos em voga como: a redução da maioridade penal, reformas na legislação
penal, situação de calamidade nas unidades prisionais, greves das polícias,
desmilitarização, papel constitucional da guarda municipal, criação da polícia
penal, controle externo da atividade policial, falta de estrutura e condições
de trabalho, segurança dos profissionais, dentre outros. Foto que no cotidiano
das ruas as pessoas estão com medo, sendo mortas e assaltadas na porta de casa
e do trabalho. Andam com medo e clamam por uma resposta do poder público que
inerte, sorri de todos, preocupados exclusivamente com as eleições de 2014.
Vivemos uma verdadeira guerra velada, enfrentando
inimigos que estão em nós mesmos: a corrupção, a arrogância, a indiferença, o
preconceito, o consumismo, o autoritarismo, dentre outras mazelas da alma e da
sociedade. Nessa guerra, devemos usar as armas da compreensão, da tolerância,
da colaboração e do compromisso coletivo. Devemos cada um reconhecer nosso
papel político e social. Não adianta criticar os políticos e não se engajar nas
políticas sociais, não se envolver e buscar soluções adequadas para os
problemas da sua casa, da sua rua, do seu bairro. Cada um deve exercer sua
cidadania, se importar com o outro colaborando para a pacificação social e
entender que suas atitudes egoístas refletem em nossa convivência coletiva.
Enquanto os ricos encontraram soluções para fugir
das suas responsabilidades e se protegem em condomínios, casas vigiadas, com
segurança privada, planos de saúde e escolas particulares. O cerco está se
fechando e toda a violência está em nossa volta. E como não temos mais para
onde ir, uma hora seremos obrigados a encarar.
Todos, mais ricos e mais pobres, adolescentes
infratores e policiais, sabem de có e salteado que a solução são as políticas
públicas. Não repetirei esse discurso, mas lembro que é necessário sair dos
palanques em período eleitoral, dos livros e teses das academias, dos discursos
de sociólogos e ativistas sociais, da letra morta da lei e chegar na prática
efetiva para as populações mais carentes que não tem acesso, tempo, nem
paciência de ler um texto ou de esperar o debate acabar. Assim, partem para
guerra que declararam contra eles e ainda querem que nós policiais sejamos os escudos
e as armas que os mantenham afastados.
Jeoás Santos é Cabo da Polícia Militar do RN e Vice-Presidente da Associação Nacional de Praças (ANASPRA)
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