quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

REFLEXÃO: O SOLDADO AGORA É DOUTOR


Por Danilo Ferreira* via Abordagem Policial

As polícias militares brasileiras vivem em um momento de conflito: entre os princípios uniformizadores da formação militar e os princípios democráticos de garantia das individualidades. Com a facilidade de acesso à informação, não há mais exclusividade de conhecimento, algum consenso só é atingido com o diálogo, a formatação impelida pela cega disciplina só gera ebulições e contraprodução.

Neste contexto, o principal ponto de tensão se encontra na liberdade de expressão, insumo democrático ainda restrito entre os PM’s brasileiros. Isto porque em um ambiente onde se tenta reduzir as complexidades e perspectivas individuais a um modelo “ideal”, convenientemente adaptado ao prazer e às fragilidades de quem manda, os suspiros de protesto tendem a ser sufocados.

E é problemático excluir a livre expressão num mundo caracterizado pela fluidez de comunicação possibilitada, principalmente, pelas novas mídias. O limite de acesso a verdades históricas, políticas, técnicas e científicas é a vontade de cada um, de modo que as autoridades só se constituem como tal quando se empenham mais que os demais no entendimento de algum assunto.

Em batalhões de policiamento ambiental há soldados mestres em biotecnologia, em unidades operacionais mal administradas há doutores em administração. Como garantir alguma governabilidade em tão complexa estrutura agarrando-se à (i)lógica do “sim senhor/não senhor”?

A humildade, o reconhecimento de erros, o diálogo, a clareza e a construção colaborativa dos entendimentos parece ser o caminho para evitar colapsos. Não se trata de renunciar às prerrogativas existentes em cada grau hierárquico, mas de perceber quão inútil é tentar unificar a variabilidade de personalidades e opiniões em um mundo cada vez mais plural. Hoje não há fragilidade que dure alguns segundos escondida.

O ponto positivo disto é que há, nesta multiplicidade de características e visões de mundo, um potencial enorme a ser explorado e utilizado em favor das instituições policiais. Basta desistir de mutilar o que cada policial-ser-humano tem de peculiar.
                                                          
Danilo Ferreira é Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA.



1 comentários:

alves disse...

Muito profundo esse artigo, além do mais, partindo de um militar é surpreendentemente inovador, concordo com tudo dito pelo companheiro, e tudo isso são sinais de novos tempos, dos avanços do pós-ditadura. A CF/88, delineou e esculpiu um novo modelo de sociedade, e não tem como nós que vivemos nela ficarmos fora desse contexto, onde a troca de ideias para se chegar ao consenso tornar-se primordial e imprescindível, aonde o monocratismo administrativo não tem mais espaço, aonde as decisões terão que se balizar em princípios os mais variados, tais como são os princípios da administração pública (v. princípios administrativos em qualquer livro de direito administrativo)... aonde, até mesmo em instituições fechadas, como a nossa, o bem comum e social terá que se sobrepor às vontades e prazeres individuais. Neste contexto, não há dúvidas de que a “nova mídia”, e em especial a internet, para mim, se converteu num espaço para expressar as ideias, aonde todos são iguais. Não importa se você é um soldado ou um coronel, se vc tem divisa, estrela, ou não possui nada na farda, você pode acessar a internet e ser uma fonte de informação, porém, há um problema, vc só puder repassar suas ideias e suas informações com o conhecimento, com o estudo, e o estudo, o conhecimento, os novos formatos, ferramentas e modelos de formação individual e pessoal estão aí à nossa frente, e nunca foram tão acessíveis. Não só o policial, mas o profissional do futuro (bem próximo) vai ser (ou já é) aquele que melhor se qualifica, que melhor se adéqua aos anseios da nova sociedade. Vivemos em sociedade, e a sociedade é dinâmica, e não tem como os estáticos paradigmas canônico-militares perdurarem por mais muito tempo, somente se baseando na hierarquia e disciplina, não que tais princípios irão sucumbir, não terão que existir em qualquer organização ou sociedade, caso contrário, teremos a anarquia, a desordem, a barbárie, porém, creio eu que outros princípios e formatos de administrar vão ser cobrados por essa dinâmica sociedade a que servimos. Vai chegar a um ponto que não adianta ser somente um bom “subordinado”, como no passado... aquele que choca os pés, fica na posição de sentido e somente sabe dizer: “SIM SENHOR, NÃO SENHOR”... Como dito pelo nobre tenente filósofo, esse velho modelo de administrar somente baseado na hierarquia e disciplina tende a ser aditado, a receber novos valores ou fatores para um bom comandante ou administrador, desde aquele que chefia uma viatura, uma guarda, um fração, até os que comandam companhias, batalhões etc., e um desses novos atributos, certamente, será o conhecimento, conhecimento este que a sociedade tende a cobrar do soldado ao coronel, pois a administração pública de um modo em geral já prevê o princípio da eficiência, princípio este que serve de base, inclusive, para admissão e/ou demissão do funcionário, como se vê nos casos em que são avaliados ainda no estado probatório... portanto, caros amigos, comandantes, pares, e comandados, do mais recruta ao mais antigo nas polícias, principalmente, na militar, pois nós é que fazemos o primeiro combate, é quem somos a linha de frente, é quem somos a coluna que sustenta a democracia, ao contrário do que alguns pensam, é quem defendemos a sociedade daqueles que transgridem a lei e tentam incutir o medo e temor nas pessoas, somos libertadores e não opressores, porém, somente com o conhecimento é que chegaremos a este estágio profissional, pessoal e social que os novos tempos nos requisita...

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