Por Luís Flávio Rabelo Fernandes*
"É com profundo descontentamento e pesar que passo a
discorrer minha breve, mas realística homenagem ao DIA DO SOLDADO, aqui
especificamente nosso soldado policial militar. Digo isso, pois muito pouco se
tem a comemorar. Um dia que era para ser coroado com esplendidas e vigorosas
lembranças, conquistas e avanços, civismo e patriotismo, torna-se uma “via
crucis” quando na realidade existe um cotidiano de descaso e descumprimento
à direitos básicos que o policial diariamente submete-se.
Profissional
dedicado, cidadão valoroso, homem que arrisca diuturnamente sua vida em
detrimento da segurança da sociedade, vê-se suprimido por décadas e décadas de
estagnação no exercício de suas garantias profissionais. Se não vejamos: seus
regulamentos disciplinares ainda permanecem arcaicos, há escassez de uma
proposta factível de ascensão profissional, não lhes é garantida uma digna
remuneração salarial, não vemos humanização das jornadas de
trabalho, muitos são submetidos a desvio de funções, inexistência de
acompanhamento psicológico adequado na área de saúde, dentre outros. E
isso principalmente capitaneados pela “desgonvernança” política daqueles que
eram para ser obrigados a administrar condigna e competentemente a nossa
segurança pública.
É inegável evidenciar que existem também ingerências por
parte de alguns membros que comandam diretamente unidades policiais militares,
no caso de Oficiais. Estes fatos, lógico, também devem ser acompanhados
internamente e compelidos a encontrar soluções humanísticas no nível de melhoramento
nas relações interpessoais entre comandantes e comandados. Afinal todos nós
somos soldados da sociedade. Mas o fato é que na realidade estes
“superiores” também estão sujeitos às ingerências governamentais, pois os
níveis de decisão nas mudanças estruturais absolutas da segurança perpassam
preponderantemente pelo Estado. Inclusive o comandante geral da Polícia Militar
é escolhido diretamente pelo seu chefe maior, no caso Governador ou
Governadora.
Como então não questionar o poder de decisão do militar? Até que
nível este pode gerenciar? Concursos a nível estadual para admissão
a soldado também são decididos e definidos por quem esta a frente do governo a
qualquer época, da forma que lhes for mais conveniente, e isso também nos leva
a crer que: quem nos convence de que estes aspirantes a policial não possam
também ser utilizados como moeda de troca eleitoreira? Sinceramente
acho que isso é o que vem acontecendo há muito tempo, não obstante, quantos e
quantos soldados, ouvimos, queixando-se de sua má formação pelo pouco tempo de
curso! Inclusive estes noviços são, muitas vezes, de forma abrupta “lançados” e
cobrados a ofertar nas ruas uma segurança de excelência para o vislumbre e
deslumbre dos muitos desinformados cidadãos eleitores. Será que estes
estão realmente preparados? Percebamos, que o reconhecimento do verdadeiro
valor do nosso soldado enquanto profissional é no mínimo questionável.
Infelizmente estas são algumas considerações que não poderíamos de forma alguma
deixar de externar neste dia tão relevante. Na minha humilde
concepção acho que a plenitude do exercício da liberdade de expressão e a livre
manifestação democrática de pensamento, na evidência de seu descontentamento,
são a maior e melhor homenagem que nossos soldados heróis estão almejando para
o dia de hoje. O desejo ávido de mudanças concretas, seria o presente mais
belo. E a expectativa da continuidade dessas mudanças a solução maior sonhada
para um futuro próximo. Se quiserem heróis mesmo, contudo, sintam-se
homenageados."
Luís Flávio Rabelo Fernandes é Capitão da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.
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